Diversidade marca debate sobre mulheres em cargos de liderança
Ciclo de debates Esse Papo Me Interessa foi realizado na tarde desta sexta-feira (12/3)
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Caracterizada pela diversidade, a quinta edição do ciclo de debates Esse papo me interessa, organizado pela Secretaria de Planejamento, Governança e Gestão (SPGG), abordou, na tarde desta sexta-feira (12/3) o tema "Desafios das mulheres em cargos de liderança no poder público”. O encontro foi alusivo ao Dia Internacional da Mulher (8 de março) e teve transmissão ao vivo pela página da SPGG no YouTube. Trocas de experiências profissionais, dados estatísticos, reflexões e momentos de emoção marcaram a conversa, em especial no depoimento da secretária adjunta de Cultura do Estado, Gabriella Meindrad, mulher trans. Participaram ainda a advogada da União Kizzy Collares Antunes, a servidora da SPGG Priscila Mena, e a procuradora-geral adjunta para Assuntos Administrativos da Procuradoria Geral do Estado (PGE/RS), Paula Ferreira Krieger.
O encontro foi aberto pelo governador Eduardo Leite e pela secretária adjunta da SPGG, Izabel Matte, com encerramento pela subsecretária de Gestão de Pessoas da SPGG, Iracema Castelo Branco. A apresentação musical ficou a cargo da fagotista Ange Bazzani, com sua composição Guabina em Pelotas. Ange foi a primeira mulher a ocupar o cargo de liderança do grupo de fagotes na história da Ospa. Na mediação, a diretora do Departamento de Gestão de Pessoas do Rio Grande do Sul, Andrea Pasquini.
Ao destacar conquistas e avanços, Gabriella Meindrad citou cotas: “garantem que mulheres como eu concluam faculdade ou ingressem no mercado de trabalho”. Lembrou que a conscientização não pode ser só do movimento, das pessoas trans, mas de toda sociedade, pois a estigmatização é um entrave ao crescimento. Como mulher trans, classificou a possibilidade de retificar o nome como a maior conquista que teve na vida, em um dos momentos comoventes do encontro. E citou a música de Dorival Caymmi que, por se chamar Gabriella, muito escuta: "eu nasci assim, eu cresci assim, vou ser sempre assim”.
Já a advogada da União Kizzy Collares Antunes encerrou seu depoimento citando o ativista dos direitos civis dos Estados Unidos Malcom X (1925-1965): “A pessoa mais desrespeitada na América é a mulher negra. A pessoa mais desprotegida na América é a mulher negra. A pessoa mais negligenciada na América é a mulher negra.” Antes, destacou diversas situações cotidianas vivenciadas por mulheres, como interrupções - estudos demonstram que mulheres são muitas vezes mais interrompidas do que homens-, descrédito e desconfianças quanto às capacidades de trabalhadoras, assédios e comentários sobre aparência e invisibilização. Kizzy relatou que, em muitas ocasiões em que participou de compromissos profissionais, percebia não ser reconhecida como advogada da União, pois os demais participantes esperavam um homem ou uma mulher branca. Destacou a importância de não se admitir nem pequenos deslizes, como piadinhas, e de votar bem.
Dados de relatório de 2016 do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) apontavam que havia somente 11% de mulheres nos conselhos de administração e 13,6% nos cargos executivos de empresas, informou a advogada da União, indicando que, quanto mais alta a posição na escala hierárquica, menor é o número de mulheres. Quanto ao perfil da magistratura brasileira, números do Conselho Nacional de Justiça denunciam que apenas 16% são ministras, 23% desembargadoras e 39% juízas titulares.
Kizzy vê uma mudança no movimento feminista, que durante muito tempo não abarcou especificidades dos grupos que o compõem. A mulher negra é a base da pirâmide social brasileira, lembrou, sempre com os piores índices relativos a salários, moradia, sempre em desvantagem. As empresas, acrescentou, fazem parte do grande mecanismo e reproduzem as opressões que existem na sociedade: "Como machismo, racismo, são estruturais, se não há proatividade no combate aos preconceitos tanto de gênero como de raça, não se consegue caminhar de maneira efetiva".
A servidora da SPGG Priscila Mena, autora do estudo "Percepções acerca das mulheres em cargo de liderança no Poder Executivo do Estado do RS”, apontou a morosidade com que a mulher está se inserindo como liderança, bem como a necessidade de muitas, para serem aceitas, assumirem posturas semelhantes a de homens no poder. Citou ainda a Síndrome de Queen Bee (abelha rainha, em inglês), em que líderes mulheres legitimam posições de desvantagem de outras mulheres dentro da organização. Priscila ressaltou que sustentabilidade também é pensar na igualdade de gênero, não só plantar árvores ou instalar painéis solares. A pandemia, acrescentou, tem demonstrado a importância de lideranças de mulheres no mundo.
Já a procuradora-geral adjunta para Assuntos Administrativos da PGE/RS, Paula Ferreira Krieger, destacou a evolução da sua carreira na Procuradoria e o papel de destaque das mulheres em posições de liderança no órgão nos últimos anos. A instituição que representa judicialmente e atua como consultoria jurídica do Estado teve três mulheres empossadas no cargo de procuradora-geral em sua história, sendo a primeira em 1996. Além disso, atualmente a PGE/RS conta com duas mulheres nos cargos de procuradora-geral adjunta.
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