RS tem o menor excesso de óbitos do país desde início da pandemia
Mas momento é de alerta: nessa semana a ocupação de leitos clínicos e de UTI é a mais alta da série histórica
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Passados seis meses do modelo de Distanciamento Controlado, o Rio Grande do Sul segue entre os estados com as menores taxas de mortalidade por Covid-19 e apresenta também o mais baixo índice em termos de excesso proporcional de óbitos do Brasil. Desde o início da pandemia, a diferença entre as mortes por causas naturais supera em 2,8% as projeções realizadas para o mesmo período com base nos registros dos últimos anos, ao passo que a média nacional chega a 24,7%. Se considerar apenas a população com mais de 60 anos, o excesso proporcional de óbitos no RS está em 1,32%, situação que entre os idosos do país como um todo chega até o momento a 21,9%.
Pelo cálculo que subtrai uma quantidade de mortes não-violentas estimada para um período específico do total de registros, o RS sempre se manteve num percentual baixo e estável desde o dia 15 de março, quando foi registrada a primeira morte por Covid-19 no país. Alguns estados que apresentam os maiores índices, como o Amazonas (57,7% de excesso de óbitos) e o Ceará (48,4%), tiveram os maiores picos logo nos primeiros meses de pandemia. Já o Distrito Federal, com uma elevação na casa de 40,6%, vem apresentando taxas elevadas desde o mês de julho.
A partir de uma metodologia desenvolvida pela Vital Strategies e cedida através da parceria do Comitê de Dados do governo gaúcho com a Impulso, o estudo mostra que o RS, mesmo nas semanas com maior número de mortes pela Covid-19, como no final de julho, o excesso de óbitos ficou em percentual abaixo da média nacional. Todavia, alerta o estudo, nas últimas cinco semanas se verifica uma elevação no excesso de óbitos.
O maior excesso ocorreu na segunda semana de maio (acumulado de 4,1%), quando o Distanciamento Controlado passou a monitorar 11 indicadores sobre o avanço da doença e a capacidade de atendimento. Desde então, o modelo atribui através de bandeiras (preta, vermelha, laranja e amarela) o risco epidemiológico a cada uma das 21 regiões a que o estado foi dividido.
A coordenadora do Comitê de Dados, Leany Lemos, destaca que o desempenho da região Sul se diferencia do cenário que outras áreas do país enfrentaram, em especial nos primeiros meses da pandemia. “Os três estados do Sul sempre mantiveram um padrão muito parecido em termos de excesso de mortes e também na taxa de mortalidade da Covid, o que evitou situações mais dramáticas como se viu em alguns estados, onde muitos vieram a óbito aguardando um leito de UTI”, compara ela.
Leany Lemos adverte, no entanto, que a doença apresenta uma escalada preocupante nas últimas semanas aqui. “Não é uma situação exclusiva do estado, pois outras regiões do Brasil estão apresentando alta no registro de novos casos e de óbitos num patamar próximo ao pico da pandemia, entre o final de julho e agosto. Mas é o nosso pior momento, o que enseja ações mais enérgicas para reversão de tendência e manutenção do RS como um dos estados com melhor performance na gestão da pandemia, até o momento”, alerta a coordenadora.
Nesta sexta-feira (27/11), a rede hospitalar chegou a 1.177 pacientes internados em leitos clínicos, o número mais alto da série histórica. O mesmo ocorre em relação à ocupação de UTIs (total de 770 pacientes confirmados com a doença), o que fez com que a ampla maioria das regiões estivesse no limite. “Estamos na menor razão na relação de leitos livres para cada ocupado por Covid-19 da série (0,68), o que requer da sociedade um grande esforço em manter aqueles cuidados essenciais, como o uso da máscara, higienização constante das mãos e nada de aglomerações. Deixem os encontros para outro momento”, insiste ela.
Idosos
O levantamento aponta que o RS, a partir do mês de maio, conseguiu manter sempre uma proporção menor de idosos entre o acumulado de óbitos além do esperado. Pelos números mais recentes disponibilizados para realização desta parte do estudo (até 17/10), o estado somava como excesso de óbitos 1.485 mortes, das quais 904 eram de pessoas com menos de 60 anos.
“Considerando o nosso perfil demográfico, proporcionalmente o estado com a população mais idosa do país, são indicadores muitos positivos. Ainda mais se considerarmos que passamos boa parte da pandemia no período de inverno e o quanto as condições do clima afetam a saúde dos mais idosos”, destacou a coordenadora do Comitê. Leany Lemos observa que houve uma boa adesão da sociedade às primeiras medidas de isolamento, o que permitiu ao governo ampliar a estrutura de atendimento. “Conseguimos dobrar a oferta de UTI via SUS. Nenhum paciente ficou sem leito no estado”, aponta.
Na comparação com os demais estados do Sul em termos de elevação de mortes entre a população com mais de 60 anos, a taxa do RS (1,3%) é bastante positiva. Santa Catarina aparece com 4,85% e no Paraná a elevação diante dos óbitos esperados para o período é de 5,79%. Dos estados selecionados pelo estudo, Amazonas e Ceará são os únicos que apresentam uma situação inversa, com taxas mais expressivas entre os idosos na comparação com aqueles com menos de 60 anos. No Amazonas, houve 71,77% de óbitos além dos projetados entre os idosos, percentual que no Ceará chegou a 50,79%.
RS X Europa e EUA
Com dados disponibilizados até esta quarta-feira (25/11), o RS segue apresentando uma das menores taxas de mortalidade por Covid-19. Se a média nacional para cada grupo de 100 mil habitantes fosse replicada aqui, o estado estaria lamentando mais de 9.200 vidas perdidas para o coronavírus. O RS tem 58 óbitos para cada grupo de 100 mil habitantes, relação que chega a 130 mortes no Distrito Federal e 129 no Rio de Janeiro. O RS aparece atrás de Bahia (55), o Paraná (52), Santa Catarina (50) e Minas Gerais (47). O excesso proporcional de óbitos nos dois vizinhos da região Sul, no entanto, está bem acima: Santa Catarina tem 7,2% de mortes além das projetadas e no Paraná o índice fica em 9,6%, ao passo que em Minas chega a 16,2% e na Bahia, em 38,9%.
Na comparação com países importantes da Europa, o RS tem uma taxa de mortalidade bem abaixo da situação vivida na Bélgica - cuja população total é quase idêntica, porém o total chega a 137,5 óbitos para cada grupo de 100 mil habitantes. Espanha (taxa de 94,2 mortes X 100 mil habitantes), Itália (86,1), Reino Unido (83,4) e França (77,7) são exemplos com situação pior ao RS e onde já há o registro da chamada segunda onda da pandemia.
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